OLOSSATO GUINÉ BISSAU
15/02/2012
19/11/2011
06/02/2011
Guerra Colonial começou há 50 anos
Início do fim do império colonial começou há 50 anos
00h30m
Helena teixeira da silva
foto Arquivo
Guerra Colonial começou há 50 anos
Traduzir a guerra colonial em números é arriscar. Haverá três mil cadáveres no Ultramar. Cá, vivos, mais de meio milhão de ex-combatentes, cinco mil deficientes. Não há certezas. A única é que o dia 4 de Fevereiro de 1961 marcou o início do fim do império colonial português.
Hoje, todos reconhecem que a guerra não fez sentido. Na altura, há 50 anos, partiram convictos de que a razão estava do lado da metrópole. Movia-os o patriotismo em que foram educados, era para a guerra e em força, defender o território nacional, servir a pátria, dar a vida pelo país. Tugas contra turras. Sentiam-se invencíveis, e mesmo que assim não fosse, tanto fazia, não tinham alternativa, o serviço militar era obrigatório.
Cerca de 11 mil militares morreram lá, nas ex-províncias portuguesas, abatidos, fuzilados, estilhaçados. Abandonados terão sido três mil, ninguém sabe ao certo. Os outros, hoje vivos apenas 540 mil (mais cerca de 130 negros, que viverão lá, mas que a lei portuguesa estranhamente não considera), com ferimentos mais de 30 mil, regressaram convencidos de que seriam abraçados como heróis. "Andámos debaixo de fogo, arriscámos a vida, lutámos pela liberdade, fizemos o que o país político nos pedia. O que haveríamos de esperar?", pergunta, retórico, José Carvalho, 59 anos, dois de Guiné. Mas as medalhas recebidas foram só cicatrizes, visíveis nuns casos, discretas noutros, mas que lhes toldaram para sempre a vida.
Irrompe-se por um almoço semanal de ex-combatentes adentro, em Matosinhos, almoço como há tantos por esse país abaixo, e percebe-se que são os ex-combatentes a tomar conta uns dos outros, que são inclusivamente eles quem tomam conta do que restou nos lugares onde combateram. Angariam dinheiro, compram medicamentos, bens alimentares, enviam para lá e lá, na Guiné, já construíram dois poços de água. O Estado português faz de conta, ou, se não faz, disfarça muito bem.
"Os ex-militares portugueses foram abandonados. Somos órfãos de pátria", reclama José Manuel, sexagenário duriense, comissão de 28 meses cumprida na Guiné. "Quando chegámos, o mais difícil era a reintegração social. Erámos apanhados de guerra, era a expressão que se usava", diz. Arranjar emprego era complicado. Muitos perderam-se, outros converteram-se ao alcoolismo, os dados sobre ex-combatentes sem--abrigo são tão díspares como todos os números referentes à guerra colonial. Seja como for, as versões oscilam entre 100 e 300.Recentemente, foi publicado um estudo sobre as "Feridas de guerra: (In)justiça silenciada", coordenado pelo coronel de artilharia na reserva João Andrade da Silva. Ao JN, o investigador explicou que a surpresa do trabalho, baseado numa amostra de 3020 queixas recebidas no Ministério da Defesa, entre 1997 e 2006, foi perceber "que a maioria dos queixosos se reporta a problemas físicos e não emocionais". Se estes abrangem 29 %, os ferimentos ou traumatismos múltiplos atingem 52 %. Isto revela "o grau de ineficácia dos diagnósticos então realizados. Entre 20 % e 40 % estavam errados ou foram optimistas". Apesar disso, considera não ter "havido abandono destes militares". "A prova de que o sistema é generoso é que reconheceu a 25 % o estatuto de deficientes das Forças Armadas".
A investigação, apesar de parecer uma pedrada no charco, não é consensual. Fonte ligada às associações de ex-combatentes considera-a "demasiado fechada". E diz ter dificuldade em crer "que os problemas de stress não sejam superiores aos físicos". É também esta a teoria dos ex-militares contactados pelo JN. "As nossas feridas não têm nome. Casei sem dizer à minha mulher que estive na guerra. E nunca falei disso até há meia dúzia de anos". Confissão recorrente. Ninguém se orgulha do que fez, todos gostavam de ter um interruptor que lhes desligasse a memória. As histórias, como a metáfora da cebola, só revelam a consciência quando o gravador se desliga. São irreproduzíveis - e impossíveis de digerir. "Não há cura para isto", dizem.
Para falar bem, mal ou assim--assim, todos os militares recordam Paulo Portas, o líder do CDS--PP que fez dos ex-combatentes a sua prioridade enquanto ministro da Defesa. Muitos consideram que o complemento anual de 150 euros (entretanto reduzido pelo actual Governo) "é esmola, ofensa" e recusam-no. Outros reconhecem-lhe o esforço. Ao JN, Portas explica que a medida tinha "valor simbólico". De alguma forma, era o "Obrigado" que os ex--combatentes nunca ouviram. De resto, é ele o primeiro a considerar "injusto" o esquecimento. "É um problema cultural", afirma. "As pessoas confundem ex-combatentes com antigo regime."
00h30m
Helena teixeira da silva
foto Arquivo
Guerra Colonial começou há 50 anos
Traduzir a guerra colonial em números é arriscar. Haverá três mil cadáveres no Ultramar. Cá, vivos, mais de meio milhão de ex-combatentes, cinco mil deficientes. Não há certezas. A única é que o dia 4 de Fevereiro de 1961 marcou o início do fim do império colonial português.
Hoje, todos reconhecem que a guerra não fez sentido. Na altura, há 50 anos, partiram convictos de que a razão estava do lado da metrópole. Movia-os o patriotismo em que foram educados, era para a guerra e em força, defender o território nacional, servir a pátria, dar a vida pelo país. Tugas contra turras. Sentiam-se invencíveis, e mesmo que assim não fosse, tanto fazia, não tinham alternativa, o serviço militar era obrigatório.
Cerca de 11 mil militares morreram lá, nas ex-províncias portuguesas, abatidos, fuzilados, estilhaçados. Abandonados terão sido três mil, ninguém sabe ao certo. Os outros, hoje vivos apenas 540 mil (mais cerca de 130 negros, que viverão lá, mas que a lei portuguesa estranhamente não considera), com ferimentos mais de 30 mil, regressaram convencidos de que seriam abraçados como heróis. "Andámos debaixo de fogo, arriscámos a vida, lutámos pela liberdade, fizemos o que o país político nos pedia. O que haveríamos de esperar?", pergunta, retórico, José Carvalho, 59 anos, dois de Guiné. Mas as medalhas recebidas foram só cicatrizes, visíveis nuns casos, discretas noutros, mas que lhes toldaram para sempre a vida.
Irrompe-se por um almoço semanal de ex-combatentes adentro, em Matosinhos, almoço como há tantos por esse país abaixo, e percebe-se que são os ex-combatentes a tomar conta uns dos outros, que são inclusivamente eles quem tomam conta do que restou nos lugares onde combateram. Angariam dinheiro, compram medicamentos, bens alimentares, enviam para lá e lá, na Guiné, já construíram dois poços de água. O Estado português faz de conta, ou, se não faz, disfarça muito bem.
"Os ex-militares portugueses foram abandonados. Somos órfãos de pátria", reclama José Manuel, sexagenário duriense, comissão de 28 meses cumprida na Guiné. "Quando chegámos, o mais difícil era a reintegração social. Erámos apanhados de guerra, era a expressão que se usava", diz. Arranjar emprego era complicado. Muitos perderam-se, outros converteram-se ao alcoolismo, os dados sobre ex-combatentes sem--abrigo são tão díspares como todos os números referentes à guerra colonial. Seja como for, as versões oscilam entre 100 e 300.Recentemente, foi publicado um estudo sobre as "Feridas de guerra: (In)justiça silenciada", coordenado pelo coronel de artilharia na reserva João Andrade da Silva. Ao JN, o investigador explicou que a surpresa do trabalho, baseado numa amostra de 3020 queixas recebidas no Ministério da Defesa, entre 1997 e 2006, foi perceber "que a maioria dos queixosos se reporta a problemas físicos e não emocionais". Se estes abrangem 29 %, os ferimentos ou traumatismos múltiplos atingem 52 %. Isto revela "o grau de ineficácia dos diagnósticos então realizados. Entre 20 % e 40 % estavam errados ou foram optimistas". Apesar disso, considera não ter "havido abandono destes militares". "A prova de que o sistema é generoso é que reconheceu a 25 % o estatuto de deficientes das Forças Armadas".
A investigação, apesar de parecer uma pedrada no charco, não é consensual. Fonte ligada às associações de ex-combatentes considera-a "demasiado fechada". E diz ter dificuldade em crer "que os problemas de stress não sejam superiores aos físicos". É também esta a teoria dos ex-militares contactados pelo JN. "As nossas feridas não têm nome. Casei sem dizer à minha mulher que estive na guerra. E nunca falei disso até há meia dúzia de anos". Confissão recorrente. Ninguém se orgulha do que fez, todos gostavam de ter um interruptor que lhes desligasse a memória. As histórias, como a metáfora da cebola, só revelam a consciência quando o gravador se desliga. São irreproduzíveis - e impossíveis de digerir. "Não há cura para isto", dizem.
Para falar bem, mal ou assim--assim, todos os militares recordam Paulo Portas, o líder do CDS--PP que fez dos ex-combatentes a sua prioridade enquanto ministro da Defesa. Muitos consideram que o complemento anual de 150 euros (entretanto reduzido pelo actual Governo) "é esmola, ofensa" e recusam-no. Outros reconhecem-lhe o esforço. Ao JN, Portas explica que a medida tinha "valor simbólico". De alguma forma, era o "Obrigado" que os ex--combatentes nunca ouviram. De resto, é ele o primeiro a considerar "injusto" o esquecimento. "É um problema cultural", afirma. "As pessoas confundem ex-combatentes com antigo regime."
02/02/2011
Quarta-feira, 2 de Fevereiro de 2011
Guiné 63/74 - P7706: Bombolom II (Paulo Salgado): Saber viver viver com a pluralidade de pontos de vida, debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande
1. Mensagem de Paulo Salgado (a viver e a trabalhar neste momento em Luanda, Angola, como especialista em administração de serviços de saúde; ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721,Olossato e Nhacra, 1970/72) [, foto à direita,]
Data: 1 de Fevereiro de 2011 14:36
Assunto: Uma palavra amiga
Companheiros ou camaradas ou camarigos!
Verifico com satisfação que é salutar ter pontos de vista diferentes face à guerra que vivemos - todos com muito sofrimento. Registo, ainda, com agrado que há diferentes pontos de vista sobre o modo como a guerra foi feita e conduzida.
Agrada-me a capacidade intelectual dos editores do nosso blogue que, balizando-se em princípios éticos, em valores morais e dentro do que é razoavelmente aceitável em termos de linguagem e de conceitos, assumem a responsabilidade de aceitar publicar notícias ou ideias contraditórias. É muito salutar esta grande capacidade dos nossos editores!
Quero reafirmar, aqui e agora, o que um grande cabo do meu grupo de combate, cuja grandeza de alma era e é inquestionável: só devemos é ter a consciência tranquila. Se cada um de nós - já com idade para compreender e aceitar a diferença e para fazer juízos tranquilos - tem pontos de vista diferentes, que nos resguardemos do vilipêndio e da maledicência. Saibamos ser Velhotes na dimensão humana. Saibamos olhar para os outros com a mesma benevolência e exigência que gostaremos que apreciem em nós.
O que diz o Mário Beja Santos sobre "celebração" pode não ser compreensivelmente aceitável. Mas é, certamente, um ponto de vista que merece reflexão, nunca o "atirar a pedra" - só atira pedras quem está incólume. Tenhamos a paciência dos "homens grandes" que à sombra do poilão sabiam discutir as questões com paciência e sem azedume, com tranquilidade e sem virulência.
Saibamos dizer aos nossos filhos e netos: nós, pais e avós, participámos numa guerra que (muitos) não queríamos; nós, pais e avós, olhamos para trás e, fugidos alguns à guerra ou presentes outros, não nos envergonhamos dos actos.
Recordo-me de dois homens muito queridos da minha meninice, na mesma aldeia, que estiveram no norte de Moçambique (Rovuma) durante mais de quatro anos, friso quatro anos, na primeira guerra mundial. Tinham pontos de vista diferentes, muito diferentes sobre os factos que viveram. Mas eu gostava de os ver bebendo alguns copos na taberna - na praça da aldeia - rirem e chorarem, tantos anos depois! Lição grande aquela de dois homens analfabetos, mas enormes na inteligência e no humanismo.
Tenho a certeza que alguns militares que estiveram comigo na minha companhia viram a guerra de maneira diferente da minha, sentiram-na no corpo e na alma de tal forma forte e dramática que certamente nem sequer desejam falar dela. No que me respeita, só descreverei aspectos paralelos, interligados, marginais - nunca sobre emboscadas que fizemos ou que sofremos, de golpes de mão com ou sem êxito, nunca sobre patrulhamentos. Isso está na história da companhia.
Respeitemos as memórias individuais e a memória colectiva que alguém deverá fazer, e se não concordamos com Almeida Bruno, ou com Beja Santos, ou com qualquer anónimo, sejamos rectos, humanos e deixemos os nossos contributos com a benevolência de combatentes que procuram o bem-estar nesta recta final das nossas vidas. Sem, com isso, deixarmos de afirmar a nossa verdade.
Mas há tantas verdades, camaradas ou companheiros ou camarigos...
Paulo Salgado
ex-alferes miliciano
Guiné 70-72.
Guiné 63/74 - P7706: Bombolom II (Paulo Salgado): Saber viver viver com a pluralidade de pontos de vida, debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande
1. Mensagem de Paulo Salgado (a viver e a trabalhar neste momento em Luanda, Angola, como especialista em administração de serviços de saúde; ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721,Olossato e Nhacra, 1970/72) [, foto à direita,]
Data: 1 de Fevereiro de 2011 14:36
Assunto: Uma palavra amiga
Companheiros ou camaradas ou camarigos!
Verifico com satisfação que é salutar ter pontos de vista diferentes face à guerra que vivemos - todos com muito sofrimento. Registo, ainda, com agrado que há diferentes pontos de vista sobre o modo como a guerra foi feita e conduzida.
Agrada-me a capacidade intelectual dos editores do nosso blogue que, balizando-se em princípios éticos, em valores morais e dentro do que é razoavelmente aceitável em termos de linguagem e de conceitos, assumem a responsabilidade de aceitar publicar notícias ou ideias contraditórias. É muito salutar esta grande capacidade dos nossos editores!
Quero reafirmar, aqui e agora, o que um grande cabo do meu grupo de combate, cuja grandeza de alma era e é inquestionável: só devemos é ter a consciência tranquila. Se cada um de nós - já com idade para compreender e aceitar a diferença e para fazer juízos tranquilos - tem pontos de vista diferentes, que nos resguardemos do vilipêndio e da maledicência. Saibamos ser Velhotes na dimensão humana. Saibamos olhar para os outros com a mesma benevolência e exigência que gostaremos que apreciem em nós.
O que diz o Mário Beja Santos sobre "celebração" pode não ser compreensivelmente aceitável. Mas é, certamente, um ponto de vista que merece reflexão, nunca o "atirar a pedra" - só atira pedras quem está incólume. Tenhamos a paciência dos "homens grandes" que à sombra do poilão sabiam discutir as questões com paciência e sem azedume, com tranquilidade e sem virulência.
Saibamos dizer aos nossos filhos e netos: nós, pais e avós, participámos numa guerra que (muitos) não queríamos; nós, pais e avós, olhamos para trás e, fugidos alguns à guerra ou presentes outros, não nos envergonhamos dos actos.
Recordo-me de dois homens muito queridos da minha meninice, na mesma aldeia, que estiveram no norte de Moçambique (Rovuma) durante mais de quatro anos, friso quatro anos, na primeira guerra mundial. Tinham pontos de vista diferentes, muito diferentes sobre os factos que viveram. Mas eu gostava de os ver bebendo alguns copos na taberna - na praça da aldeia - rirem e chorarem, tantos anos depois! Lição grande aquela de dois homens analfabetos, mas enormes na inteligência e no humanismo.
Tenho a certeza que alguns militares que estiveram comigo na minha companhia viram a guerra de maneira diferente da minha, sentiram-na no corpo e na alma de tal forma forte e dramática que certamente nem sequer desejam falar dela. No que me respeita, só descreverei aspectos paralelos, interligados, marginais - nunca sobre emboscadas que fizemos ou que sofremos, de golpes de mão com ou sem êxito, nunca sobre patrulhamentos. Isso está na história da companhia.
Respeitemos as memórias individuais e a memória colectiva que alguém deverá fazer, e se não concordamos com Almeida Bruno, ou com Beja Santos, ou com qualquer anónimo, sejamos rectos, humanos e deixemos os nossos contributos com a benevolência de combatentes que procuram o bem-estar nesta recta final das nossas vidas. Sem, com isso, deixarmos de afirmar a nossa verdade.
Mas há tantas verdades, camaradas ou companheiros ou camarigos...
Paulo Salgado
ex-alferes miliciano
Guiné 70-72.
18/11/2010
António José Comando - "O Sobrevivente"
António José Comando - "O Sobrevivente"
Reportagem SIC
"À procura da família do menino mascote!"
«O Sobrevivente» conta a história de António Comando e passa hoje no «Esta Semana»
M.J.C.
A história de António Comando já é conhecida. O menino moçambicano viu a mãe morrer à sua frente com um tiro disparado de espingarda portuguesa e ficou a olhar para os 20 homens armados à sua frente, sem chorar. Os comandos tiveram pena do pequeno órfão, levaram-no para o quartel e perguntaram-lhe o nome. António, agora António José Comando, tinha três anos e fez a tropa como um homem crescido, com direito a farda e rancho à mesa com os furriéis. E, quando a companhia regressou a Portugal, fez a viagem com eles.
O jornalista Daniel Cruzeiro quis contar a história deste homem, que, como ele próprio diz, gosta dos homens que lhe mataram a mãe, mesmo sabendo que é um paradoxo. A reportagem sobre "O Sobreviente", com imagem de Carlos Santos e montagem de José Ribeiro da Silva, é exibida hoje no programa «Esta Semana», no qual Margarida Marante entrevista também Jardim Gonçalves.
A reportagem recupera imagens de combate cedidas pelo Exército português e recolhe depoimentos dos elementos da Nona Companhia de Comandos, João Vacas de Carvalho, Júlio Ribeiro Oliveira, Luís Gonzaga, Pinheiro Feio, José Barreto, Mário Pimentel e José Barreto recordam os meses que passaram com o menino, os seus primeiros sapatos, a cantilena que ele entoava de cor sem saber o que dizia. Em Portugal, António viveu num orfanato e juntou-se depois à família de Luís Gonzaga, o seu «segundo» pai.
E é com a câmara da SIC que António Comando regressa, 30 anos depois, a Moçambique e reencontra o seu verdadeiro pai.
A reportagem transforma-se então em «Ponto de Encontro», com lágrimas e abraços em exclusivo para a SIC, entidade promotora da viagem e da união da família. E as memórias da guerra apagam-se, quando António, o seu pai e o ex- comando Luís Gonzaga se abraçam e ajoelham perante a campa da mãe de António. Faz-se a paz mediática, 30 anos depois da guerra.
Reportagem SIC
"À procura da família do menino mascote!"
«O Sobrevivente» conta a história de António Comando e passa hoje no «Esta Semana»
M.J.C.
A história de António Comando já é conhecida. O menino moçambicano viu a mãe morrer à sua frente com um tiro disparado de espingarda portuguesa e ficou a olhar para os 20 homens armados à sua frente, sem chorar. Os comandos tiveram pena do pequeno órfão, levaram-no para o quartel e perguntaram-lhe o nome. António, agora António José Comando, tinha três anos e fez a tropa como um homem crescido, com direito a farda e rancho à mesa com os furriéis. E, quando a companhia regressou a Portugal, fez a viagem com eles.
O jornalista Daniel Cruzeiro quis contar a história deste homem, que, como ele próprio diz, gosta dos homens que lhe mataram a mãe, mesmo sabendo que é um paradoxo. A reportagem sobre "O Sobreviente", com imagem de Carlos Santos e montagem de José Ribeiro da Silva, é exibida hoje no programa «Esta Semana», no qual Margarida Marante entrevista também Jardim Gonçalves.
A reportagem recupera imagens de combate cedidas pelo Exército português e recolhe depoimentos dos elementos da Nona Companhia de Comandos, João Vacas de Carvalho, Júlio Ribeiro Oliveira, Luís Gonzaga, Pinheiro Feio, José Barreto, Mário Pimentel e José Barreto recordam os meses que passaram com o menino, os seus primeiros sapatos, a cantilena que ele entoava de cor sem saber o que dizia. Em Portugal, António viveu num orfanato e juntou-se depois à família de Luís Gonzaga, o seu «segundo» pai.
E é com a câmara da SIC que António Comando regressa, 30 anos depois, a Moçambique e reencontra o seu verdadeiro pai.
A reportagem transforma-se então em «Ponto de Encontro», com lágrimas e abraços em exclusivo para a SIC, entidade promotora da viagem e da união da família. E as memórias da guerra apagam-se, quando António, o seu pai e o ex- comando Luís Gonzaga se abraçam e ajoelham perante a campa da mãe de António. Faz-se a paz mediática, 30 anos depois da guerra.
28/10/2010
23/03/2010
A GUERRA COLONIAL
Portugal mantinha laços fortes e duradouros com as suas colónias africanas, quer como mercado para os produtos manufaturados portugueses que como produtos de matérias primas para a industria portuguesa. Muitos portugueses viam a existência de um império colonial como necessária para o país ter poder e influência contínuos. Mas o peso da guerra, o contexto político e os interesses estratégicos de certas potência estrangeiras inviabilizariam essa ideia
Apesar das constantes objecções em fóruns nacionais, como a OMU, Portugal mantinha as colónias, dizendo considerá-las parte integral de Portugal e defendendo-as militarmente. O problema surge com a ocupação unilateral e forçada dos enclaves portugueses de Goa, Damão, e Diu, em 1961.
Em quase todas as colónias portuguesas africanas- Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde- surgiam entretanto movimentos, independistas, que acabariam por se manifestar sob a forma de guerrilhas armadas. Estas guerrilhas não foram facilmente contidas, conseguido controlar uma parte importante do território, apesar da presença de um grande número de tropas portuguesas que, mais tarde, seriam em parte significativa recrutadas nas próprias colónias.
Os vários conflitos forçavam Salazar e o seu sucessor Caetano a gastar uma grande parte do orçamento de Estado na administração colonial e nas despesas militares.
A administração das colónias custava a Portugal um pesado aumento percentual anual no seu orçamento tal contribuiu para o empobrecimento da economia portuguesa: o dinheiro era desviado de investimentos infraestruturais na metrópole. Até 1960 o país continuou relativamente frágil em terrenos económicos, o que aumentou a emigração para países em rápido crescimento e de escassa não- de -obra da Europa Ocidental, Como França ou Alemanha. O processo iniciava-se no fim da segunda Guerra Mundial.
Apesar das constantes objecções em fóruns nacionais, como a OMU, Portugal mantinha as colónias, dizendo considerá-las parte integral de Portugal e defendendo-as militarmente. O problema surge com a ocupação unilateral e forçada dos enclaves portugueses de Goa, Damão, e Diu, em 1961.
Em quase todas as colónias portuguesas africanas- Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde- surgiam entretanto movimentos, independistas, que acabariam por se manifestar sob a forma de guerrilhas armadas. Estas guerrilhas não foram facilmente contidas, conseguido controlar uma parte importante do território, apesar da presença de um grande número de tropas portuguesas que, mais tarde, seriam em parte significativa recrutadas nas próprias colónias.
Os vários conflitos forçavam Salazar e o seu sucessor Caetano a gastar uma grande parte do orçamento de Estado na administração colonial e nas despesas militares.
A administração das colónias custava a Portugal um pesado aumento percentual anual no seu orçamento tal contribuiu para o empobrecimento da economia portuguesa: o dinheiro era desviado de investimentos infraestruturais na metrópole. Até 1960 o país continuou relativamente frágil em terrenos económicos, o que aumentou a emigração para países em rápido crescimento e de escassa não- de -obra da Europa Ocidental, Como França ou Alemanha. O processo iniciava-se no fim da segunda Guerra Mundial.
ANOS SETENTA
Em Fevereiro de 1974, Marcelo Caetano (1º Ministro de Portugal na altura), é forçado pela velha guarda do regime a destituir o general António de Spínola e os seus apoiantes. Tentava este, com ideias algo federalista, modificar o curso da política colonial portuguesa, que se revelava demasiada dispendiosa.
Conhecidas as divisões existentes no seio da elite do regime, o MFA decide levar adiante um golpe de estado. O movimento nasce secretamente em 1973. Nele estão envolvidos certos oficiais do exercito que já conspiravam, descontentes por motivo de carreira militar.
Conhecidas as divisões existentes no seio da elite do regime, o MFA decide levar adiante um golpe de estado. O movimento nasce secretamente em 1973. Nele estão envolvidos certos oficiais do exercito que já conspiravam, descontentes por motivo de carreira militar.
22/03/2010
19/03/2010
O 25 DE ABRIL VISTO MAIS TARDE
O 25 de Abril de 1974 continua a dividir a sociedade portuguesa, sobretudo nos estratos mais velhos da população que vivem os acontecimentos, nas facções extremas do especto político e nas pessoas politicamente mais empenhadas. A análise que se segue refere-se apenas ás divisões entre estratos sociais.
Existe actualmente dois pontos de vista dominantes na sociedade portuguesa em relação ao 25 de Abril.
Quase todos reconhecem, de forma ou de outra, que o 25 de Abril representou um grande salto no desenvolvimento politico social do país. Mas as pessoas mais á esquerda do aspecto politico tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. O PCP lamenta que a revolução não tenha ido mais longe e que muitas conquistas da revolução se foram perdendo.
De uma forma geral, ambos os lados lamentam a forma como a descolonização foi feita enquanto que as pessoas mais á direita lamenta as nacionalizações feitas no período imediatamente ao 25 de Abril de 1974 que condicionaram sobre maneira o crescimento de uma economia já então fraca.
Existe actualmente dois pontos de vista dominantes na sociedade portuguesa em relação ao 25 de Abril.
Quase todos reconhecem, de forma ou de outra, que o 25 de Abril representou um grande salto no desenvolvimento politico social do país. Mas as pessoas mais á esquerda do aspecto politico tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. O PCP lamenta que a revolução não tenha ido mais longe e que muitas conquistas da revolução se foram perdendo.
De uma forma geral, ambos os lados lamentam a forma como a descolonização foi feita enquanto que as pessoas mais á direita lamenta as nacionalizações feitas no período imediatamente ao 25 de Abril de 1974 que condicionaram sobre maneira o crescimento de uma economia já então fraca.
17/03/2010
CRAVO
O cravo vermelho tornou-se símbolo da Revolução de Abril de 1974. Logo ao amanhecer começaram o povo a juntar-se nas ruas, solidário com os soldados revoltosos. Entretanto,(existem várias versões da mesma história) uma florista, que levava cravos para um hotel, terá dado um cravo a um soldado, que colocam no cano da espingarda. Outros o imitaram, enfiando cravos vermelhos nos canos das suas armas.
16/03/2010
MOVIMENTAÇÕES MILITARES DURANTE A REVOLUÇÃO
No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa.
Ás 22h 55m é transmitida a canção "E depois do Adeus",de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa. Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas, que desencadeou a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado.
O segundo sinal foi dado ás 0h20 m, quando foi transmitida a canção "Grândola Vila Morena", de José Afonso, pelo programa Limite, da Radio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.
O golpe militar do 25 de Abril teve a colaboração de vários regimentos militares que desenvolveram uma acção concertada.
No Norte, uma força do CICA 1 liderada pelo Tenente-Coronel Carlos de Azeredo toma o Quartel General da Região Militar do Porto. Estas forças são reforçadas por forças vindas de Lamego. Forças do BC9 de Viana do Castelo tomam o Aeroporto de Pedras Rubras. Forças do CIOE tomam a RTP e RCP no Porto. O regime reagiu, e o ministro da Defesa ordenou a forças sediadas em Braga para avançarem sobre o Porto, no que não foi obedecido, já que estas já tinham aderido ao golpe.
Á Escola Prática de Cavalaria, que partiu de Santarém, coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço. As forças da Escola Prática da Cavalaria eram comandadas pelo então Capitão Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço foi ocupado ás primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia, moveu,mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo, Marcelo Caetano, que ao final do dia se rendeu, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao General António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcelo Caetano partiu, depois, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil. A revolução resultou na morte de 4 pessoas, quando elementos da policia política (PID) dispararam sobre um grupo que se manifestava á porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.
Ás 22h 55m é transmitida a canção "E depois do Adeus",de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa. Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas, que desencadeou a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado.
O segundo sinal foi dado ás 0h20 m, quando foi transmitida a canção "Grândola Vila Morena", de José Afonso, pelo programa Limite, da Radio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.
O golpe militar do 25 de Abril teve a colaboração de vários regimentos militares que desenvolveram uma acção concertada.
No Norte, uma força do CICA 1 liderada pelo Tenente-Coronel Carlos de Azeredo toma o Quartel General da Região Militar do Porto. Estas forças são reforçadas por forças vindas de Lamego. Forças do BC9 de Viana do Castelo tomam o Aeroporto de Pedras Rubras. Forças do CIOE tomam a RTP e RCP no Porto. O regime reagiu, e o ministro da Defesa ordenou a forças sediadas em Braga para avançarem sobre o Porto, no que não foi obedecido, já que estas já tinham aderido ao golpe.
Á Escola Prática de Cavalaria, que partiu de Santarém, coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço. As forças da Escola Prática da Cavalaria eram comandadas pelo então Capitão Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço foi ocupado ás primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia, moveu,mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo, Marcelo Caetano, que ao final do dia se rendeu, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao General António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcelo Caetano partiu, depois, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil. A revolução resultou na morte de 4 pessoas, quando elementos da policia política (PID) dispararam sobre um grupo que se manifestava á porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.
PREPARAÇÃO DO GOLP.
A primeira reunião clandestina de capitães foi realizada em Bissau, em 21 de Agosto de 1973. Uma nova reunião,em 9 de Setembro de 1973 no Monte Sobral (Alcáçovas) dá origem ao Movimento das Forças Armadas. No dia 5 de Março de 1974 é aprovado o primeiro documento do movimento: "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação". Este documento é a posto a circular clandestinamente. No dia 14 de Março o governo demite os generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Vicie-Chefe e Chefe-Maior General das Forças Armadas, alegadamente,por estes se terem recusado a participar numa cerimónia de apoio ao regime. No entanto, a verdadeira causa da expulsão dos Generais foi facto do primeiro ter escrito com a cobertura do segundo, um livro, "Portugal e o Futuro", no qual, pela primeira vez uma alta patente advogava a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias e não uma solução militar. No dia 24 de Março a última reunião clandestina decide o derrube do regime pela força.
10/03/2010
O PERÍODO COLONIAL
Os rios da Guiné e as ilhas de Cabo Verde estiveram dentre as primeiras regiões de África a serem exploradas pelos portugueses. O navegador português Álvaro Fernando chegou á Guiné em 1446 (Nuno Tristão segundo outras fontes) e reclamou a posse do território, porém, poucas feitorias de comércio foram estabelecidas antes de 1600.
A ocupação do território pela Coroa portuguesa só se deu sob a Dinastia Filipina, com fundação da vila de Cacheu (1588) sujeita administrativamente ao arquipélago de Cabo Verde. No mesmo contexto, foi estabelecida, em 1630, a Capitania-Geral da Guiné Portuguesa para a administração do território.
Após a Restauração Portuguesa (1640), foi retomado o povoamento na região, tendo-se fundado as povoações de Farim e Ziguinchor. A irradiação da colonização portuguesa fez-se a partir da foz dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Bula. Durante século a região constitui-se em ponto estratégico para o comércio de escravos.
Em finais do século XVII edificou-se a fortaleza de Bissau, período em que os franceses começavam a afirmar a sua presença na região. Em 1753 foi reestabelecida a Capitania de Bissau.
Em 1879 procedeu-se a separação administrativa de Cabo Verde, constituindo-se a Guiné Portuguesa. Pouco mais tarde, no contexto do Congresso de Berlim (1884-1885) diante do retalhamento da África pelas potências coloniais europeias, a Guiné-Bissau, agora com as suas subsequentes tentativas de ocupação e colonização portuguesa não se fizeram sem resistência das populações locais. A última delas ocorreu em 1936 com a revolta dos bijagós de Canhabaque.
A luta pela independência
Durante três séculos a região constitui a colónia de Guiné Portuguesa.
Em 1951, a Guiné-Bissau mudou de estatuto, tornando-se numa Província Ultramarina de Portugal.
Em 1956 intelectual guenieense Amílcar Cabral, que estava no exílio em Conacri, e mais cinco correligionários fundaram o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Em 1963, face á intransigência de Portugal quanto á independência, com o apoio de outros países, o PIAGC iniciou a luta armada de guerrilha, visando pôr termo ao colonialismo português.
A guerrilha do PAIGC consolidou o seu domínio do território em 1973, mas, no mesmo ano, Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri, tendo sido substituído pelo irmão Luís de Almeida Cabral.
A independência, declarada unilateralmente a 24 de Setembro de 1973, chegou com a Revolução dos Cravos em Portugal (1974). A 10 de Setembro de 1974, a Guiné-Bissau foi a primeira Colónia portuguesa na África a ter reconhecido a sua independência, constituindo-se na República da Guiné-Bissau.
30/01/2010
12/12/2009
08/12/2009
Subscrever:
Mensagens (Atom)